terça-feira, 17 de junho de 2014

Como estudar Linguagens, Códigos e suas tecnologias? Guia do estudante dá a dica!

Os temas mais recorrentes
Os assuntos que mais aparecem nas questões do Enem desde 2009
Interpretação de texto
Gêneros textuais
Norma culta e popular
Funções da linguagem
Figuras de linguagem
Literatura
Gramática relacionada à semântica
Se você ler atentamente qualquer uma das provas anteriores do Enem, vai perceber que a maior parte das questões, de todas as matérias, depende de uma boa capacidade de interpretação de texto e leitura. Na prova de Linguagens, essa habilidade é, sem comparação, a mais importante e a mais abordada.De acordo com a professora Fernanda Carvalho Bomfim, do Cursinho do XI, o estudante deve focar a atenção nas figuras de linguagem, em ambiguidade, intertextualidade, síntese e resumo, além de literatura e gêneros textuais.
Importante: é válido ficar atento aos conceitos de denotação e conotação, que costumam ser cobrados e podem confundir o aluno.
Denotação: quando a palavra apresenta o sentido original, sem levar em consideração o contexto da frase, ou seja, tal como aparece no dicionário.
Conotação: quando a palavra aparece com significado, passível de interpretações que dependem do contexto em que está aparecendo.

O Enem não costuma trazer grandes novidades na prova de Linguagens, mas a dica da professora Fernanda é que o aluno fique atento à importância dada ao estudo de um segundo idioma, devido à chegada de turistas estrangeiros pela Copa do Mundo. “É possível que a velha discussão sobre o descaso com a Língua Portuguesa venha à tona, porque, em geral, muitos brasileiros consideram mais importante estudar uma língua estrangeira do que a materna”, diz.


Sobre as questões de Literatura, Fernanda recomenda que o aluno saiba relacionar os movimentos com seus equivalentes em outras artes. “Essas questões costumam apresentar obras de artistas plásticos do modernismo brasileiro e das vanguardas europeias, como Pablo Picasso, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Cândido Portinari. É importante pesquisar esses movimentos artísticos”, ressalta




Além disso, outro assunto que pode ser cobrado é o novo acordo ortográfico. As regras não serão exigidas na prova, uma vez que o prazo de implementação do acordo foi estendido até o dia 31 de dezembro de 2016. No entanto, é provável que o tema caia na prova. “Como no exame de 2010, é possível que haja questões de interpretação referentes ao acordo apenas para verificar se o candidato está atualizado”, pontua Fernanda.




Línguas estrangeiras
O idioma da prova de língua estrangeira é selecionado pelo candidato no ato da inscrição, sendo possível a escolha entre inglês ou espanhol. São apenas 5 questões, dentre as 45 da prova de Linguagens, e todas possuem um texto nessa língua, com a pergunta e as respostas em português. A prova, em si, consiste basicamente em questões de interpretação de texto, geralmente menos complexas que a prova de Português.
De acordo com o professor Leonardo Braga Scriptore, do Cursinho do XI, as questões de língua estrangeira costumam cobrar textos mais sérios sobre algum assunto em pauta na política. “Isso facilita o trabalho do estudante, porque assuntos mais sérios podem ser mais objetivos e precisos na hora de ler”, diz.
Neste tópico, o professor indica que uma boa pedida para quem precisa treinar o domínio da língua é ler bastantes notícias de sites, como o Newsweek, o Breaking News English e a página da BBC.
Temas tradicionais, como gramática, tempos verbais, formação de advérbios e outros recursos de linguagem também costumam ser cobrados.


A prova de língua estrangeira do Enem também nunca deixa de cobrar interpretação de texto em charges e letras de música, que costumeiramente vêm acompanhadas de linguagem coloquial e duplo sentido. Em questões com charge ou tirinha, normalmente o exame pede que o aluno explique a piada, o que pode gerar confusão na hora de interpretar o fator que provoca o humor.



Importante: Para este tipo de questão, o professor Leonardo recomenda que o aluno entre em sites de humor e procure entender a linguagem dos memes, que tem grandes chances de aparecer no exame, visto a grande popularidade na internet e redes sociais.

Exemplo (retirado do Enem 2012)
 
Leonardo aponta também que estudar outras matérias em inglês ou espanhol antes de estudar em português pode ajudar a aperfeiçoar a compreensão do texto. “Por exemplo, se for estudar Revolução Francesa, abra antes o artigo em inglês da Wikipédia sobre o assunto e tente ler para ver o quanto você consegue absorver do texto”, explica.

domingo, 8 de junho de 2014

5 Filmes brasileiros que oferecem uma visão crítica da margem

1 - Carandiru



 Carandiru é um filme brasileiro de 2003, do gênero drama, dirigido pelo argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco.
O filme é uma superprodução baseado no livro Estação Carandiru, do médico Drauzio Varella, onde ele narra suas experiências com a dura realidade dos presídios brasileiros em um trabalho de prevenção à AIDS realizado na Casa de Detenção.
O filme ostenta cenas nas quais se percebe que os vilões (os presos), são os mais inocentes quando se inverte a história do drama e a percepção do senso comum.
Na verdade, o interessante é o paradoxo enorme que se pode notar em uma parte do filme.
A revolta dos presos contra "mastigados e enlatados" é vista como rebeldia pelos policiais. Eles eram presidiários, porém nunca deixaram de ser humanos.Tiveram sempre uma vida miserável e estando ali trancados naquele presídio, não era de se assustar ao surgimento de uma rebelião.
O absurdo foi o desarmamento dos presos e o sucessivo extermínio daqueles que estavam fora de suas celas.
O filme mostra a faceta da desordem de nossa opinião sobre aquilo que deveria ser relativizado: Os vilões serão sempre os bandidos? A justiça foi muito dissonante diante dos fatos ocorridos.
Incredulamente aceitável, mas convictamente dizendo, é interessante a vergonha que a nós se desfere quando vemos que dois animais de espécies diferentes podem se entender entre si, enquanto nós humanos, apenas procuramos mais e mais motivos para rotular as outras pessoas, descriminando muitas delas. Queremos ser superiores aos demais.
Extremamente complexo é ver casos em que os que merecem justiça, acabam sendo injustiçados. Talvez não só no Brasil, mas de justos injustos o mundo está cheio.
Tudo está ligado a tudo. "A verdadeira culpa, como na piada, é da sociedade".
2 - Cidade Baixa

Mais do que a história do triangulo amoroso, vale pautar o contexto e o convívio dos expectadores no ambiente em que vivem; na maior casa de prostíbulos de Salvador. As condições precárias, insanidade, doenças que se proliferam fornecem uma alta reflexão sobres as condições que vivem a camada mais baixa da nossa sociedade.
É um triângulo amoroso entre uma prostituta e dois homens que fazem transporte marítimo. Eles seguem para a Cidade Baixa de Salvador. Entre as dificuldades de relacionamento, o filme mostra o cotidiano das pessoas dessa região. Fala de pobreza, drogas, prostituição e violência.
Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) se conhecem desde garotos, sendo difícil até mesmo falar em um sem se lembrar do outro. Eles ganham a vida fazendo fretes e aplicando pequenos golpes a bordo do Dany Boy, um barco a vapor que compraram em parceria. Um dia surge Karinna (Alice Braga), uma stripper que deseja arranjar um gringo endinheirado no carnaval de Salvador a quem a dupla dá uma carona. Após descarregarem em Cachoeira, Deco e Naldinho vão até uma rinha de galos. Naldinho aposta o dinheiro ganho com o frete, mas se envolve em confusão e termina recebendo uma facada. Deco defende o amigo e ataca o agressor, mas os dois são obrigados a fugir no barco, pois Naldinho está ferido. Na fuga, Karinne ajuda a dupla e vai com eles rumo a Salvador. Enquanto Naldinho se recupera, Deco tenta conseguir dinheiro para ajudar o amigo. Aos poucos a atração entre eles cresce, criando a possibilidade de que levem uma vida a três.

3 - Tropa de Elite I e II


O filme Tropa de Elite é uma obra que descreve fatos ocorridos na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro na década de 90, durante a visita que o Papa João Paulo ll realizou a Capital Carioca. Sua narrativa é intensa em sua descrição da realidade diária da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro – PMERJ, totalmente paltada em situações que, segundo o autor, baseiam-se em relatos de fatos reais, que lhe foram feitos por Policiais Militares. O personagem central da trama é um Capitão PM do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Tropa de Elite da Policia Militar carioca, considerada internacionalmente como a melhor força de Combate Urbano do Mundo. A narrativa é intensa e gira em torno do personagem central o Capitão Nascimento, que motivado pelo nascimento de seu filho resolve deixar as atividades do Batalhão, mas para isto é necessário que ele encontre um substituto que tenha os seus ideais de honra e profissionalismo. Contudo, em uma polícia permeada pela corrupção, esta busca acaba se transformando em uma missão quase impossível. Finalmente, ele encontra dois jovens Aspirantes a Oficial, que se enquadram nas características necessárias em um Policial Militar do BOPE da PM do Rio de Janeiro, estes Aspirantes, por força do destino, acabam sendo conduzidos ao Curso de Operações Especiais que é coordenado pelo Capitão Nascimento.
O filme além de fazer uma crítica a corrupção da polícia carioca, também mostra a hipocrisia da classe média, representa por estudantes universitários, que criticam a violência policial, mas, no enredo do filme - que não está longe da realidade da sociedade carioca – estes mesmos estudantes, realizam o consumo e o tráfico de drogas nas festas estudantis e na própria universidade, e assim favorecendo a violência urbana carioca. Tropa de Elite é uma obra de ficção que expõem as entranhas de uma corporação policial que existe no Brasil a duzentos anos (Criada em 1808 por D. João VI). A PMERJ tem em seus quadros muitos policiais honestos e valorosos, contudo, os maus policiais existem, como em qualquer organização policial no mundo, e estes policiais corruptos é que são denunciados no filme. 

4 - Cidade de Deus


O drama nos apresenta o Brasil visto atráves do mundo da favela Buscapé, jovem negro, fotógrafo do Jornal do Brasil, morador da favela Cidade de Deus, narra a evolução desta favela do Rio de Janeiro, através da trajetória de Dadinho, depois Zé Pequeno e seus comparsas. Das origens na década de 1960, com o surgimento da primeira gang de assaltantes, até primórdios dos anos de 1980, onde o grande negócio é boca de fumo e narcotráfico, acompanhamos o desenvolvimento da marginalia da favela Cidade de Deus.
O filme apresenta a vida nas favelas como de fato ela é,a violência,as fortes cenas de criminalidade,uma verdadeira guerra cívil,onde crianças se sentem orgulhosas em cometer crimes,,podemos observar isso no personagem de Zé Pequeno,que desde criança apresenta uma personalidade cruel,uma dura realidade social brasileira.

sábado, 31 de maio de 2014

Uma lista de grandes romances da geração de 30. Érico Veríssimo, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Amando Fontes, Dyonélio Machado e Cyro dos Anjos.

1. O Tempo e o Vento – Érico Veríssimo

Érico Veríssimo

Érico Veríssimo criou o maior épico brasileiro escrito até hoje. O Tempo e o Vento narra nada menos que duzentos anos da história do Rio Grande do Sul – e, por que não, do país. Da chegada dos primeiros habitantes ao estado até a derrocada das velhas famílias estancieiras representadas pelos Terra-Cambará, vemos passar uma galeria de personagens apaixonantes. Temos Ana Terra e Bibiana, mulheres fortes em meio a um mundo de homens hostis; temos Capitão Rodrigo, uma mistura de galã e aventureiro, cativante como só ele pode ser. Há guerras – muitas guerras – e passagens marcantes dessa história de formação de um estado marcado por homens que morreram à toa e mulheres que sofreram por eles.

2. A Bagaceira – José Américo de Almeida

Jose-Américo-de-Almeida
José Américo de Almeida
O primeiro dos romances de 30 foi publicado em 1928. Nele podemos encontrar boa parte do que seriam as características de uma geração: o foco numa região periférica do país; e a mostra da violência das velhas elites que viam seu entardecer logo ali. José Américo nos apresenta uma família de retirantes que vai morar em um engenho e as consequências da relação entre o filho do senhor do engenho, Lúcio, e da filha do sertanejo, Soledade. Com muito sangue e violência, vemos os rígidos códigos de sertanejo sendo aplicado a todos, doa a quem doer.

3. O Quinze – Rachel de Queiroz

 Um romance de paradoxos: se por um lado, é o romance menos inventivo do ponto de vista técnico (poderia se dizer que é um romance do século passado), por outro é extremamente moderno em sua temática. Ao narrar a história de Conceição, personagem central da obra, Rachel de Queiroz, no auge dos seus vinte anos, dá um final surpreendente para uma mulher em meio a uma sociedade patriarcal e machista da época. Também inovou ao mostrar as mazelas proporcionadas pela seca no nordeste – algo, pelo incrível que pareça, quase totalmente ignorado pela maioria dos romancistas anteriores. Instigante, é o primeiro e melhor romance da autora.


4. São Bernardo – Graciliano Ramos

 Poderíamos dizer muitas coisas sobre esse romance: que fala sobre a ascensão e queda de Paulo Honório, que fala dos ciúmes doentios de um homem, que é um romance de fina análise psicológica de tradição machadiana. Não adianta, tentar encaixar Graciliano Ramos em poucas palavras, é covardia, afinal ele joga com tantos níveis ao mesmo tempo nesta narrativa da fazenda São Bernardo que a única coisa que podemos dizer é: leiam, por favor, leiam!

5. Fogo Morto – José Lins do Rego

Romance único não só na sua própria obra como também na sua geração. Não que conte algo de novo, pois a história, como em outros livros dessa lista, é sobre a derrocada de um antigo coronel. No entanto, a forma como é feita, dando o foco narrativo a três personagens diferentes, dá ao romance uma construção impar. Do Mestre José Amaro até o Capitão Vitorino, José Lins nos apresenta a derrocada inevitável de um mundo frente à modernidade, aproveitando para nos mostrar a derrocada social e psicológica do Coronel Lula de Holanda. Vale ainda uma grande ressalva ao melhor dos personagens do autor: Capitão Vitorino. De percepção limitada e sentimentos nobres, é o melhor personagem de cunho quixotesco que temos em nossa literatura.

6. Terras do Sem Fim – Jorge Amado

Jorge Amado
 Como muitos dos romances de Jorge Amado, este também virou novela. Há, entretanto, algo de diferente nessa história. Não é a Bahia gostosa dos seus romances mais tardios, muito menos a denúncia da vida sofrida das camadas mais baixas. Jorge Amado nos brinda com um épico sobre a tomada do Sequeiro Grande e a luta de dois clãs, o de Horácio e o dos Badarós, para tomar as melhores terras para o plantio de cacau. Temos de tudo um pouco no meio do caminho: tocaias, incêndios, traição e muito mais. Romance único na obra do autor, temos uma aventura impar sobre o auge da era do cacau e uma terra adubada de sangue.

7. Os Corumbas – Amando Fontes

Oswald de Andrade disse que ficava sem ar ao ler a vida sofrida e miúda d’Os Corumbas, e não é para menos. Nesse primo pobre do romance de 30, Amando Fontes mostra a vida da família título ao se mudar do sertão para a cidade, revelando o movimento migratório clássico que estava começando no país e os problemas que os pobres passavam nessa passagem. Se você quer encontrar felicidade, não leia este romance, pois a única coisa que encontrará vai ser a vida desgraçada desses imigrantes.

8. Os Ratos – Dyonélio Machado

Naziazeno é o pior personagem da Literatura Brasileira, talvez esteja aí o grande êxito da obra. É difícil de acreditar que Dyonélio Machado construiu esse magnífico romance psicológico partindo de um mote tão banal: a busca de dinheiro de um homem para pagar a conta do leiteiro. No meio de idas e vindas de Naziazeno, sofremos junto com ele – sofremos tanto e tão próximos que às vezes esquecemos que não é ele quem está narrando a história. Um romance russo que se passa em Porto Alegre, mas ainda que  Naziazeno, o pobre-diabo e protagonista do romance, tivesse vivido, e sofrido, em São Petersburgo, ninguém notaria a diferença.

9. O Amanuense Belmiro – Cyro dos Anjos

 Um homem que literalmente não consegue sair do lugar, esta é a melhor descrição que podemos dar do personagem-título desse romance de Cyro dos Anjos. Ao escrever seus diários, Belmiro mostra o interior de um homem falido em todos os sentidos possíveis. Filho de uma família oligárquica arruinada, ele vai rememorar o maior amor da sua vida, Camila, com quem nada teve. Além disso, vai nutrir um amor platônico por uma mulher que abraçou por poucos instantes num baile de carnaval, sem jamais tentar algo para conquistá-la, mesmo quando um amigo lhe mostra que a moça, uma filha de família rica, é real e pode estar ao seu alcance. Nesse mundo que poderia ter sido e não foi, Belmiro vive até que decide terminar o diário que compõe o romance – talvez porque saiba que nada irá acontecer.

10. Gabriela, Cravo e Canela – Jorge Amado

Tudo bem, já tem Jorge Amado nessa lista e muitos outros autores e romances ficaram de fora (a lista é longa, admito). No entanto, não há como citar Jorge Amado sem citar esse romance. No auge da sua carreira, o autor soube se reinventar e mostrar sua tão amada Bahia por uma nova perspectiva. Não que tenha abandonado a denúncia, só que agora ela tomou cores mais tropicais, sendo mais espontânea e brasileira. O romance entre o árabe Nacib e a sertaneja Gabriela não abandona a terra do cacau, muito menos os coronéis enriquecidos com o fruto dourado, apenas mostra aquele mundo ambíguo, onde homens tinham de ser machos e dados à traição, enquanto as mulheres tinham de ser esposas ou prostitutas por uma nova ótica, mais leve e divertida – mas nunca com menos denúncia. E lá vamos nós atrás de rabos de saia, intrigas de velinhas de igreja e brigas e mais brigas como sempre. Gabriela, Cravo e Canela é Jorge Amado se reinventando – e reinventando o jeito de contar os problemas de uma geração.






 

sábado, 12 de outubro de 2013

Carta aberta à Fran

Cara Fran, 
Olha só que legal, vi um vídeo e vários comentários sobre o seu caso hoje.
No mais gostaria de agradecer a possibilidade que me deu, incontestavelmente de falar abertamente sobre isso com meus alunos. Eis o motivo no qual estou publicando essa postagem em meu blog aberto a classe estudantil e pensante. Sou professora e monitora, e não há momento mais propicio do que este para sanar a questão privada no qual estava inserida você e seu namorado/parceiro/amigo/conjugue/amante/puta que pariu.

É Fran, acontece que não só eu, como grande parte das mulheres, pasmem 73% sente uma pequena tara sexual em ser filmada/fotografada, assim como tantas outras porcentagens sentem taras por brinquedos, vibradores, e demais fantasias sexuais. Sim, sexo é uma coisa casual. E como todos SABEM E FAZEM, não passa de uma atividade meramente humana.

Fato é que as pessoas muitas vezes ao analisarem uma situação, pensam a principio na vítima, depois nas consequências e por ultimo sobre quem praticou o ato, pois é assim que funciona a roldana do determinismo natural.

Dentro de uma relação privada entre vocês, vamos falar da mesma que se tornou publica de uns dias pra cá. Não pense que quero dar proporção ao caso, mas fazer disso uma questão que interesse não só aos meus alunos que estão na fase de transição de conhecimento, como numa comunidade em geral, inclusive aos pais que não devem ensinar seus filhos a como não fazer sexo e sim cautelar sobre as más índoles que todas nós estamos suscetíveis a passar por isso.

Acredito como professora, que o maior erro que nós cometemos é querer ir além das nossas limitações, é claro que as condições ilimitadas trazem consequências, assim como a proibição também traz, quando não acompanhadas de um critério. E o critério de todas essas “ilimitações” masculinas vem acompanhada de um machismo determinante em que o homem só fez aquilo que foi permitido, não importa se foi com consentimento ou não, nós estamos sempre erradas a partir do momento em que tiramos a roupa. Já que não temos o direito de confiar ou nos sentir a vontade, ou mesmo se queremos dar, sinta-se no direito assim como eu faço agora, de se libertar. Eu quero transar seja lá com quem for porque eu sou ilimitada, eu nasci livre, mas dentro da minha liberdade entre as paredes do bom caráter, me esqueço que o livre-arbítrio alheio muitas vezes não passa de uma carapuça fina, que a sociedade insiste em usar.

Entremos na questão que sofremos em horas. Penso que devo prestar toda a minha solidariedade fazendo esta carta aberta e honesta. Já fui chamada de puta por transar com mulheres apenas para adquirir experiência, quando decidi trabalhar fora cedo, quando usei short no ônibus, quando decidi ter um relacionamento aberto, Quando estava cansada demais para transar com algum ex namorado babaca, enfim, quando decidi me tornar uma mulher sexualmente livre sem pensar nas consequências que não eu traria, mas o machismo.

Dentro dessas condições no qual estamos expostas o tempo todo, rogo para que o seu caso vire uma questão de justiça e não de julgamentos precários e de pouca formação ideológica dessa população vítima de uma sociedade patriarcal. Não sinta raiva dessas pessoas, sinta pena, não de você que tem uma vida sexualmente ativa (diferente de quem fala pelos cotovelos), sendo machista por hora aqui hehe, afinal de contas isso infere a sua particularidade e liberdade simultaneamente, não deixe isso passar como um vão. Sei que você não é “uma mulher imoral”, é apenas como um todo, uma jovem livre, acabe com tudo isso e enfrente o que vier pela frente defendendo a sua liberdade que já nasceu com você.

Um abraço.


Att. Respeito

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Álvares de Azevedo: O virgem de 21 anos



Trecho baseado na pesquisa "Do Romance ao Simbolismo: Uma abordagem comparativista."

A mulher romântica, assim como a simbólica é alva, branca na maioria das representações lascivas dos poetas. Porém, a mulher romântica é sempre o anjo, a sereia, é essa incessante busca pelo irreal, enquanto a mulher simbólica é tanto representada com uma atmosfera bíblica, quanto em uma forma orgânica e carnal. Cruz e Sousa foi especialista na utilização de imagens ousadas com efeito de sugestão. Angústia sexual e erotismo misturam-se em toda sua extensão poética. Observe a exaltação de uma mulher que parece devorar os homens no poema “Lubricidade” da obra “Broqueis”.

Lubricidade
Quisera ser a serpe venenosa 
Que dá-te medo e dá-te pesadelos 
Para envolverem, ó Flor maravilhosa, 
Nos flavos turbilhões dos teus cabelos.
Quisera ser a serpe veludosa 
Para, enroscada em múltiplos novelos, 
Saltar-te aos seios de fluidez cheirosa 
E babujá-los e depois mordê-los...

Talvez que o sangue impuro e flamejante 
Do teu lânguido corpo de bacante, 
Da langue ondulação de águas do Reno

Estranhamente se purificasse... 
Pois que um veneno de áspide vorace 
Deve ser morto com igual veneno...

(SOUSA, Cruz. Broqueis, pág. 30)


A grande tentação do homem branco é a mulher de cor. Percebemos que ao longo de sua obra, há inexoravelmente uma luta de oposição, desde o homem negro com a cultura do branco, o ideal amoroso da mulher branca, do erotismo negro. A temática do feminismo na obra de Cruz e Sousa, vem ao encontro do seu desejo de eternidade, de criação e de beleza medieval evocadora. A mulher branca é sacralizada, portadora do mistério, como se verifica excerto do poema:

“Alva, do alvor das límpidas geleiras,
Desta ressumbra candidez de aromas...
Parece andar em nichos e redomas
De Virgens medievais que foram freiras.”


Virgem medieval, da pureza intocável, o poeta mostra esse conflito interno em não poder tocar a mulher branca, objeto do seu desejo. O eu lírico, então vislumbra a mulher em seu desejo carnal que causa incômodos, geleiras, e talvez uma repressão sexual e intima do poeta.
No poema “Alda”, a musa está salva do vício “amortalhado na pureza clara”, indicando a negação total do corpo e desejo carnal do poeta. Conta-se a necessidade de transceder e espiritualizar a musa e que ao mesmo tempo apontam para o oposto; a imagem da luxúria.

Alva, do alvor das límpidas geleiras,
Desta ressumbra candidez de aromas...
Parece andar em nichos e redomas
De Virgens medievais que foram freiras.

Alta, feita no talhe das palmeiras,
A coma de ouro, com o cetim das comas,
Branco esplendor de faces e de pomas
Lembra ter asas e asas condoreiras.

Pássaros, astros, cânticos, incensos
Formam-lhe aureoles, sóis, nimbos imensos
Em torno a carne virginal e rara.

Alda fez meditar nas monjas alvas,
Salvas do Vicio e do Pecado salvas,
Amortalhadas na pureza clara.
(Alda, Cruz e Sousa)

Há um drama psíquico, entre o plano material e imaterial na intimidade do poeta. Em “Dança do Ventre”, o poeta delineai a mulher como sendo pecaminosa, cujo corpo é a forma inferior, o que causa uma certa eloqüência ao despertar o desejo terrestre ao associar a mulher com um réptil em seu plano amoroso:

Torva, febril, torcicolosamente, 
numa espiral de elétricos volteios, 
na cabeça, nos olhos e nos seios 
fluíam-lhe os venenos da serpente. 

Ah! que agonia tenebrosa e ardente! 
que convulsões, que lúbricos anseios, 
quanta volúpia e quantos bamboleios, 
que brusco e horrível sensualismo quente. 

O ventre, em pinchos, empinava todo 
como réptil abjecto sobre o lodo, 
espolinhando e retorcido em fúria. 

Era a dança macabra e multiforme 
de um verme estranho, colossal, enorme, 
do demônio sangrento da luxúria!
( SOUSA, Cruz. Faróis, “Dança do Ventre”.)
 

Álvares de Azevedo, mesmo descrevendo intimamente a mulher, sempre a eleva ao título de virgem.  Em sua poesia o sentimentalismo é exaltado, e a mulher é paradoxalmente vista como o ideal de pureza conjugado com a fonte de prazer carnal, ainda que pelo beijo e não pelo ato sexual, uma vez que o ideal de pureza está relacionado à virgindade. É verídico afirmar que o poeta amou e muito, mas devido a ausência de uma mulher “real” que o correspondesse, esse plano ficou sempre na coexistência. Nisso, a lírica do Poeta se aproxima muito da lírica de Cruz e Sousa; retratando a mulher alva e intocável, as perfeições inalcançáveis de um poeta que morreu tão vigem quanto nasceu. Observa-se a imagem do poeta que lamenta a virgindade;

“Oh! ter vinte anos sem gozar de leve
A ventura de uma alma de donzela!
E sem na vida ter sentido nunca
Na suave atração de um róseo corpo
Meus olhos turvos se fechar de gozo!
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas
Passam tantas visões sobre meu peito!
Palor de febre meu semblante cobre,
Bate meu coração com tanto fogo!
Um doce nome os lábios meus suspiram,
Um nome de mulher... e vejo lânguida
No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!
Acordo palpitante... inda a procuro;
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Só o leito deserto, a sala muda!
Amorosa visão, mulher dos sonhos,
Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Nunca virás iluminar meu peito
Com um raio de luz desses teus olhos?”
(Idéias intimas – Álvares de Azevedo)


Mário de Andrade, incontestavelmente descreve o poeta com pequenas aventuras amorosas. O poeta tinha um certo retrocesso sexual. Essa transferência de prazer físico para os sonhos é própria dos sexualmente insatisfeitos, principalmente jovens. Onde Mário de Andrade foi encontrar a “fobia”, Silvio Romero viu a ausência, e podemos observar que se conclui na “Lira dos Vinte anos”, um anjo e um demônio misturados nos desejos físicos do poeta que se encontram no plano carnal e irreal.
As fantasias eróticas do poema “Idéias íntimas”, estão diretamente vinculadas ao conceito de masturbação:

“(...)No véu suave de amorosas sombras
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem,
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras
O alento fresco e leve como a vida
Passar delicioso... Que delírios!(...)”


Através dos sonhos sem dormir, sonhos como sinônimo de devaneios e fantasias, em primeiro estágio, e dos sonhos dormindo, o poeta vivia os seus desejo eróticos, que eram povoados de imagens lúbricas e sensuais, fortemente excitantes. Descobre-se uma forte tendência sexual do poeta e até mesmo um sentimento de culpa, quase sempre inseparável da masturbação. Dentro desse contexto, vê-se um poeta movido pelos impulsos e fantasistas arbitrários, tentando viver a imagem da mulher, colocando nos lábios dela, no corpo frio embalsamado, em delírio tremendo e suspirando.
Enquanto isso, Cruz e Sousa manifesta sua apreciação pela brancura, sinônimo de pureza de religiosidade, aproximando paralelamente da mulher inalcançável, intocável pelo fato do preconceito racial vivido pelo poeta em sua sociedade na época. Uma vez que a mulher se encontra distante do poeta Romântico pela sua real incompatibilidade carnal, a mulher do Simbolista se distancia em especificidade de Cruz e Sousa pela raça, pela incompatibilidade social do poeta frente a uma sociedade ainda racista.

Do léxico de Cruz e Sousa, especialmente o dos primeiros livros, já se disse que, além da presença explicável de termos litúrgicos, traía a obsessão do branco, fator comum a tantas de suas metáforas em que entram o lírio e a neve, a lua e o linho, a espuma e a névoa. Ao que se pode acrescer a não menor freqüência de objetos luminosos ou translúcidos: o sol, as estrelas, o ouro, os cristais. À explicação um tanto simplista dos que viram nessa constante apenas o reverso da cor do poeta, um intérprete mais profundo, o sociólogo Roger Bastide, preferiu outra, dinâmica, pela qual todas as barreiras exitenciais da vida de Cruz e Sousa – e não só a cor – o levaram a um esforço de superação e de cristalização, fazendo-o percorrer um caminho inverso ao de Mallarmé” (BOSI, 2006, p. 274)


[...]Talvez a explicação para o fato de Cruz e Sousa descrever e idealizar a mulher branca esteja no fato de que ele teve uma educação de fundo germânico,impregnada de Haeckel, Büchner e Schopenhauer [...] (COUTINHO, 2004, p. 405).Também pode estar no fato de ele ter “amado uma Vênus loira, nórdica, que realmente existiu, e que era uma pianista” (Idem, ibidem, p.403). 


A musa de “Seraphica” é representada como bela e virginal, portanto pura, dura e fria por um lado, mas com a suavidade dos anjos e das flores por outro. Podemos deduzir isso devido ao fato de a maioria dos adjetivos que a caracterizam se encontrarem especialmente no espaço simbólico das pedras, das flores, da morte e do sagrado cristão, aí se encontra paralelamente a musa de Álvares de Azevedo, onde a mesma se encontra fria, pálida e reclinada:

Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!


Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando
Negros olhos as pálpebras abrindo
Formas nuas no leito resvalando


Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei, chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
(AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. Porto Alegre: L& PM, 1998. p.190-191)


O poeta oscila entre a pura contemplação e a possibilidade de concretização da relação amorosa.
Romanticamente o poema leva a crer que é através do sonho que existe a melhor oportunidade para a realização carnal do amor. É possível perceber uma certa antecipação da estética realista-naturalista na descrição do corpo da mulher. Quando vista de uma forma negativa, a mulher na forma intrínseca do poeta, representa a culpa carnal, a transmutação do desejo figurado ao plano real, o plano terrestre.

" És a origem do Mal,
és a nervosa serpente tentadora e tenebrosa,
tenebrosa serpente de cabelos!... "


Quando nos debruçamos sobre o poema “Tenebrosa” de Cruz e Sousa, o primeiro aspecto que chama a atenção já a partir do título é a representação aparentemente negativa da mulher de cor negra, representação em que predominam adjetivos e comparações provenientes de campos semânticos e simbólicos da luta, do prazer carnal e da animalidade, " És a origem do Mal, és a nervosa serpente tentadora e tenebrosa, tenebrosa serpente de cabelos!... "

No trecho do Poema da primeira parte da Lira dos vinte anos, pode-se observar, ainda que bastante oculto, uma visão venenosa, atrativa voltada para atmosfera sexual, tratada pelo satanismo, um certo desconforto por parte do poeta em querer compactuar com esse desejo terrestre, a dor que isso causa, a convulsa pela mulher idealizada semelhante à mulher de Cruz e Sousa:

Amoroso palor meu rosto inunda,
Mórbida languidez me banha os olhos,
Ardem sem sono as pálpebras doridas,
Convulsivo tremor meu corpo vibra...
Quanto sofro por ti! Nas longas noites
Adoeço de amor e de desejos...
E nos meus sonhos desmaiando passa
A imagem voluptuosa da ventura:
Eu sinto-a de paixão encher a brisa,
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens;
E ela mesma suave descorando
Os alvacentos véus soltar do colo,
Cheirosas flores desparzir sorrindo
Da mágica cintura.
Sinto na fronte pétalas de flores,
Sinto-as nos lábios e de amor suspiro...
Mas flores e perfumes embriagam...
E no fogo da febre, e em meu delírio
Embebem na minh’alma enamorada
Delicioso veneno.
(AZEVEDO, Alvars de; Lira dos vinte anos – Itália II)


Em uma tradição cristã, o satanismo está associado ao paganismo através do Deus Pã que é um Deus venerado como força fecundante da natureza. Meio homem, meio animal que tem o dorso e rosto de homem, mas ostenta chifres e patas de bode, com longos pelos cobrindo o corpo e feições animalescas. A parte animalesca sendo assim representada pelo rabo e pelas patas, mostra como o homem está sujeito às tentações carnais. A mulher como símbolo do pecado é a representação perfeita daquilo que podemos chamar de culto culposo a Eva por ter entregado o paraíso ao cair na tentação de Satã. Por uma questão lendária e cultural, a mulher veio sendo representada como o cerne dos problemas mundanos, o perigo, o abismo profano no qual todos meros mortais estão sujeitos. Fazendo uma pequena análise física da carta de Tarô de Marselha, podemos concluir essa associação, deixando claro que a carta denominada “diabo”, carrega o consciente confuso, curioso, tentado. O Deus Pã, nomeado como Diabo acorrentando um homem e uma mulher nus, a representação de Adão e Eva é possível, relacionando simbolicamente o ímpeto e a libertinagem interligados ao mal, o sexo e o desejo sendo objetos dominante.


Ainda que idealizada em plano irreal, a musa inspiradora, a virgem do seio rosado, a inspiração pela musa clássica dos padrões europeus, a mulher esteve sempre presente representando os dois lados da moeda: Se por um era o anjo etéreo virginal dos campos, por outro era a personificação do mal, do veneno, a tradição pecaminosa. Aquilo que trai o poeta, que o faz ceder à idéia que se torna carnal. Uma das vertentes que mais definem essa familiaridade entre Cruz e Sousa e Álvares de Azevedo e muitas outras categorias é a antítese sempre paralela e metapoética, Aquilo que é inalcançável, a eterna busca pela realização plena e estática do ser humano fez com que esses autores no auge de sua época retratarem a mulher como símbolo e possibilidade de fuga do mundo que se vê enquadrado na decadência orgânica, no próprio questionamento e conflito interno do poeta que não se encontra na formalidade e na sua função. Eis um plano real e um fato presente na vida destes dois poetas; o conflito existencial.


Por: Valesca Rennó



Elementos pré simbolistas no contexto ultra romântico








Caminhando para uma estrutura musical, os poetas da década de 80, buscavam se afastar das escolas literárias parnasianas e realistas. Embora os artistas simbolistas tenham algumas características em comum, muitos deles não aderiram a nenhuma uniformidade estilística.

Veremos o sentimento religioso, o desejo de religação com o cosmos, mesclado à angústia de viver nesse miserável plano de existência. Porém, as razões sócio-econômicas que engendram a realidade insatisfatória são deixadas de lado preservando o platonismo e o cristianismo. Melancolia sem revolta, eis o que, grosso modo, é apresentado como essencial da poesia  Simbolista,.

Podemos dizer que o Simbolismo por um lado representa a versão final da evolução iniciada com o Romantismo, com a descoberta da metáfora e que conduziu uma riqueza imaginária impressionista. Porém, ele também pode ser considerado como uma reação contra toda a poesia anterior. Fato este, que o próprio Simbolismo repudia o Romantismo pelo seu emocionalismo e o convencionalismo da linguagem metafórica.

“Portanto os simbolistas, compreendem que a poesia não é somente a emoção, amor, mas a tomada da consciência desta emoção; que a atitude poética não é unicamente afetiva, mas ao mesmo tempo cognitiva. Por outras palavras, a poesia carrega em si um modo de conhecer.” (MOISÉS, Massaud. História da Literatura Brasileira, Simbolismo. Pág: 35)


            A subjetividade de cada artista e seus aspectos não-racionais como o misticismo, também são valorizados e sobrepostos de acordo com alguns poetas que tinham uma estreita ligação nas artes plásticas, considerada Simbólicas já na França, destes; Verlaine, Mallarmé e Rimbaud.

Pode-se dizer então que, enquanto o Romantismo se eleva, o Simbolismo cai; queda esta que pode ser demonstrada pelas quebras dos padrões estéticos vivenciados cotidianamente em crise. Desta forma, a burguesia intelectual da época preconizavam o fim do academicismo e do positivismo, por terem a clareza de que esses valores não faziam mais sentido em suas vidas e, conseqüentemente, em suas criações. Deste modo, a obra começa a ser vista a partir de um novo olhar, a pintura é feita sem acabamento em sua superfície, com pinceladas toscas, distorções das formas e utilização de cores não naturais. Ou seja, a decadência superficial que recai sobre o materialismo, a terra. A própria linguagem a ser posta em questão e sendo mais trabalhada. A linguagem pela linguagem.
O mundo real, passa a ser transfigurado a partir daí. O Simbolismo rejeita toda aquela representação Fiel ao mundo, perfeitamente em traços. Com isso, toda essa idéia romântica do alcance a perfeição, a eterna busca pelo sublime recai, quando no Simbolismo essa transformação ocorre de forma lenta e gradual. A realidade passa a ser o plano teórico, um nível de abstração muito mais elevada, numa linguagem muito mais trabalhada e musicalizada, pois era a forma que os poetas encontravam para anular o tédio e representar o mundo de forma cientifica, material e orgânica.


“Após uma esfuziante crença na razão e na ciência, após tanto positivismo e tanto progresso teorizados, a prática da vida diária começou a mostrar ao homem finissecular em cansaço e uma descrença tão grande nesse mundo materialista, que uma espécie de nostalgia da alma do espírito, das coisas parecia dominar a todos.”
(PEIXOTO, Sérgio Alves. A consciência criadora na poesia brasileira; pág. 191)


O próprio Simbolismo nega os valores anteriores a ele, onde se encaixa o Romantismo, e é nesse conflito que o próprio poeta começa a questionar sua incapacidade de impor novos valores, e passa a negar o mundo e a realidade. Passa a descrê em tudo, buscando, sobretudo, na embriaguez e na musicalidade uma nova idéia que se transfigura. Nesse aspecto, podemos entrar agora com uma nova linha de estudo ao qual se encaixa o Romantismo de Segunda Geração, pois é a partir dele que podemos traçar um diálogo decadentista. Enquanto os poetas Simbolistas buscavam na embriaguez distorcer a realidade, e a descrença presente no próprio conflito interior, os poetas ultra-romanticos buscavam a embriaguez como forma de alcança aquilo que é perfeito, sendo assim numa posição contrária.

“Contatava-se a miséria do mundo e do poeta pra nada se fazer, a não ser lamentar-se, na maioria das vezes em tom baixo, e refugira-se na embriaguez do sonho e da música.”
(PEIXOTO, Sérgio Alves; A consciencia criadora na poesia brasileira; pág. 200)


É fato de que o Simbolismo apresenta traços meramente semelhantes ao de Romantismo de segunda geração, a que se baseou em uma arte totalmente voltada para o desapego patriota e “mergulhou” em um exacerbado sentimentalismo e pessimismo doentio como forma de escapar da realidade e dos problemas que assolavam a sociedade na época. Em síntese, pela cultura européia trazida pelo poeta Álvares de Azevedo, era o subjetivismo que assolava a obra poética do autor, o egocentrismo, e negação da cultura indianista, da cultura patriota, criando assim a necessidade do autor em se questionar sobre o seu papel dentro da literatura.
Sua poesia não revela nenhuma impregnação afetiva do instinto de nacionalidade que surgiu momentaneamente do subjetivismo lírico em que encontrava o clima ideal. Entre os românticos, foi de fato singular a sua atitude retraída perante a natureza, onde não encontrava resposta às solicitações do espírito. Álvares de Azevedo manifestava um regular desejo em conciliar-se com a natureza exterior.

São idéias talvez... Embora riam
Homens sem alma, estéreis criaturas,
Não posso desamar as utopias.”
(AZEVEDO, Álvares de, Lira dos vinte anos.)

A causa para o seu êxito como poeta, foi aquilo que dispunha como a natureza exterior: A sua imaginação de índole obscura, onde tudo era sugestivo em vida, mas que também era luminosidade, como o predomínio das forças elementares assim como relatadas posteriormente no Simbolismo.

“Quando Silvio Romero abusivamente o julgava um talento superior ao de Baudelaire ou quando Ronald de Carvalho entreviu, no poema “Meu sonho”, uma antecipação da poesia decadentista, é que , pela excentricidade de suas visões e pela fluidez de sua linguagem poética. Álvares de Azevedo fora mesmo alem do Romantismo convencional.”
(ROCHA, Hildon. Álvares de Azevedo: Anjo e Demônio do Romantismo, pág. XI)


Os simbolistas retomam a subjetividade da arte romântica com outro sentido. Os românticos desvendavam apenas a primeira camada da vida interior, onde se localizavam vivências quase sempre de ordem sentimental. Os simbolistas vão mais longe, descendo até os limites do subconsciente e mesmo do inconsciente. Cruz e Sousa têm por um de seus temas como principal, o luar, conciliando uma Síntese superior, a luz fria, a castidade e o lado noturno do seu “eu”. Este tema é apresentado por duas vias de acordo com Afrânio Coutinho: Ora a noite é acalentadora e que faz esquecer a maldade dos homens; ora é o símbolo da morte, da esterilidade. Sendo assim dispersos, ambas as escolas traçavam aquilo que era chamado de Decadentismo poético.

“O Decadentismo é um clima, é o extremo exacerbado individualismo, mais acentuado do que o Romantismo, é o cansaço de quem vive os últimos tempos, mas que ampliando-se ultrapassa seus limites históricos derramando-se pelo século XX. Com o Decadentismo, o lirismo pessoal readquire seu sentido puro.”


O Decadentismo presente no Simbolismo é diferente daquele encontrado no Romantismo, pois, vive exatamente na medida em que busca uma linguagem capaz de sugerir uma verdade, uma forma de recusar o mundo. Já que no Romantismo o decadentismo se dava aos encontros irrealizáveis do poeta que estavam sempre em plano irreal, imaterial. É sempre bom lembrar que o Decadentismo foi uma fase de negação, de protesto, de individualismo, de reação contra o Positivismo e Parnasianismo, reduzindo as suas emoções baixas, à emoções indefiníveis, as sensações exacerbadas, as “exigências” da carne.



Álvares de Azevedo, trouxe parcialmente ao Brasil essa reforma antinacionalista. Estudar a sua poesia é penetrar em um mundo cheio de sonhos e fantasias. Aceitar o desafio de penetrar a interioridade do poeta é descobrir que sua obra é a expressão do desejo de viver intensamente, retido por valores sociais que causando temor e anseios no poeta. O que se pode observar é que ele possui uma fascinação pelo novo, o que, de certa forma, dificultou a compreensão da crítica do século XIX, atribuindo a inovação a sua imaturidade, visto que boa parte de sua escrita está marcada pela rebeldia, própria de um poeta jovem que busca definir seu estilo.
Visto num contexto contra reformista em desordem social, tanto no Romantismo apresentado na Segunda Geração, como no Simbolismo, eis que surge uma vertente, uma leva tipicamente européia, trazida por influencias do Poeta Inglês George G. Byron, quando há uma penetração no satanismo surgido como oposição ao conceito religioso implementado na época. Satã realmente teve um papel fundamental na Literatura, pois era o mais belo do anjos, da luz. Satã foi símbolo da revolta e da liberdade entre a maioria dos poetas, sendo uma reivindicação de si mesmo perante a Deus. Em “broqueis” de Cruz e Sousa, a maioria dos poemas atualiza o amor erótico, o amor idealizado. O Amor em “faróis” é desmaterializado através do corpo que só se vislumbra com a morte e a destruição. A dor e a convulsa estão sempre presente nas obras do poeta.


“Existem em todo o homem, a todo o momento, duas postulações simultâneas, uma a Deus, outra a Satanás. A invocação a Deus, ou espiritualidade, é um desejo de elevar-se; aquela a Satanás, ou animalidade, é uma alegria de precipitar-se no abismo.”
(Charles Baudelaire)


Baudelaire, como sendo percussor do Simbolismo, opõe Deus ao maligno, e por ser cristão. Traz uma nostalgia da felicidade perdida, o corpo representa o pecado; o espírito representa o amor ideal. A putrefação encontra-se associado ao realismo mundano. Assim em Cruz e Sousa, “Vênus Negra” encaminha para o pecado, sensual e carnal por parte da mulher negra, enquanto a branca é alva e se encontra em uma atmosfera religiosa em grande parte dos poemas.

“Como os de hoje, os jovens daquele tempo, no Brasil provinciano e atrasado, faziam do sexo uma plataforma de libertação e combate, que se articulava à negação das instituições. Eles eram agressivamente eróticos, com a mesma truculência com que eram republicanos e agrediam o Imperador, chegando alguns ao limiar do socialismo. Portanto, foi um grande instrumento libertador esse Baudelaire unilateral ou deformado, visto por um pedaço, que fornecia descrições arrojadas da vida amorosa e favorecia uma atitude de oposição aos valores tradicionais, por meio de dissolventes como o tédio, a irreverência e a amargura.” (CANDIDO, 1987, p. 26)

Nessa leva influenciável, voltamos ao Byronismo, onde encontramos em Azevedo uma alma complexa de adolescente apaixonado pelo seu ídolo, fazendo de Byron o grande lírico, o poeta dos sonhos perdidos “Que do mundo o fingir merece apenas/ Negro sarcasmo em lábios de poeta”. Álvares de Azevedo transformou-o em sua própria musa, “Minha musa serás poeta altivo”, encontrando nele o espelho de seu dramatismo, pessimismo, desespero e descrença, fazendo da poesia uma explosão da alma irrequieta e melancólica.

Arquétipo

Ele era belo: na espaçosa fronte
O dedo do Senhor gravado havia
O sigilo do gênio; em seu caminho
O hino da manhã soava ainda
E os pássaros da selva gorjeando

Saudavam-lhe a passagem neste mundo.
Sim, era uma criança, e no entanto
Frio da morte lhe coava n´alma.
O seu riso era triste como o inverno,
Num clarão, nem um pálido lampejo
Da mocidade o fogo revelavam.

Em nada acreditava; há muito tempo
Que a idéia de Deus soprara d´alma
Como das botas a poeira incômoda.
O Evangelho era um livro de anedota,
Beethoven torturava-lhe os ouvidos
A poesia provocava o sono.

Muita donzela suspirou por ele,
Muita beleza lhe dormiu nos braços,
Mas frio como o gênio da descrença,
Após um´hora de gozar maldito,
Saciado as deixou, como o conviva
A mesa do festim, - farto e cansado...
(CAVALHEIRO, 1961, p. 18-19)


A consagração do fumo, da bebida, dos amores carnais e, principalmente o tédio, retratam uma concepção epicurista da vida; pois, a procura do prazer é uma necessidade transformada em uma verdadeira obsessão, tanto que a inexistência de um deleite obriga a substituição por outro cada vez mais eficiente. A produção Azevediana, à maneira de Byron é, contudo, a mais fraca e artificial.
A sua produção não-byroniana é excepcional pela dosagem exata do humor.
Magalhães Júnior (1962,p.46), em consonância com outros críticos, afirma que o mal byrônico foi uma epidemia que dominou as letras brasileiras:

“Morto aos 37 anos em 1824, duas décadas mais tarde Byron continuava a inflamar a mocidade intelectual brasileira. Quando acadêmico, em São Paulo, Antônio Augusto de Queiroga, seu primeiro tradutor no Brasil, transportara para a nossa língua o dramapoema Caim. Francisco José Pinheiro Guimarães traduzira ChildeHarold‟s Pilgrimage e outros estudantes procuravam fazer o mesmo. Raros os que, com algumas noções da língua inglesa e certa tendência literária, não pagavam seu tributo ao poeta de O Corsário e a Noiva de Abydos. José de Alencar foi um destes. Ele próprio o confessa em Como e porque sou romancista.” (Grifos do autor)


           Neste processo, podemos encaixar o poema “Lésbia” de Cruz e Sousa, publicado no livro “Broquéis”, de 1893,o poeta descreve uma figura feminina em que ressaltam aspectos selvagens e instintivos, pela aproximação direta com elementos do campo vegetal. O processo é intensificado pelos adjetivos que complementam aqueles elementos (lascivo, selvagem, mortal, carnívora e sangrenta),representando-se a sexualidade feminina, homossexual, como o título indica, de uma perspectiva negativa, também byronica. Os dois últimos tercetos acentuam a implícita aproximação ao satânico em referencia à demoníaca serpente, estabelecendo-se uma atmosfera de entorpecimento nasal pelos campos aromáticos, sabores em seios acídulos, amargos e visões obscuras como o luar tuberculoso. Observe o poema “Lésbia”:

Cróton selvagem, tinhorão lascivo,
Planta mortal, carnívora, sangrenta,
Da tua carne báquica rebenta
A vermelha explosão de um sangue vivo.

Nesse lábio mordente e convulsivo,
Ri, ri risadas de expressão violenta
O Amor, trágico e triste, e passa, lenta,
A morte, o espasmo gélido, aflitivo...

Lésbia nervosa, fascinante e doente,
Cruel e demoníaca serpente
Das flamejantes atrações do gozo.

Dos teus seios acídulos, amargos,
Fluem capros aromas e os letargos,
Os ópios de um luar tuberculoso..
(Lésbia – Cruz e Sousa)


(...) o terceiro, enfim, condensa-se nas lésbicas, por quem Baudelaire sempre se sentiu atraído, talvez devido a razões psicanalíticas profundas que não vale a pena investigar, mas que provavelmente se prendem com o repúdio da agressividade inerente ao falocentrismo da sexualidade masculina, deixando essas mulheres envoltas numa doçura que apenas o feminino conhece e que, sem o ônus da gravidez e da família, dão a Baudelaire a ilusão de um amor tanto mais puro quanto se libertou das leis da natureza.

                                                                                                          
            Enquanto o Romantismo prega o cansaço da civilização se apegando a um “Eu”, a uma “Pátria”, à “Religião” ou ao “Amor”, o Simbolismo expressa o mesmo cansaço, mas sem idealismos em que se apegar; só resta, para os simbolistas, a arte. Daí a idéia de “arte pela arte”. Além disso, diferentemente do Romantismo, na experiência simbolista toda transcendência está destinada ao fracasso. Trata-se de um mundo no qual não há mais Deus. A transcendência, assim, se volta para o mundo retificado, caracterizando uma busca do além pela concretude, configurando uma ambição um tanto quanto paradoxal. Outra diferença entre os movimentos é que enquanto o primeiro comunica, o último sugere, via o já explicado discurso indireto da imagem. Enquanto a figura de poeta no Romantismo é a de bardo, que transmite verdades, no Simbolismo a é figura de vidente - que vislumbra, entrevê.

          Visto que a literatura brasileira sofreu grande influência da literatura européia, nada mais natural que também nossos românticos e simbolistas se imbuíssem dessa influência. Assim como Cruz e Sousa tenha se banhado na poética orgânica de Baudelaire e Álvares de Azevedo na poética erótica de George G. Byron. Mesmo que a máscara satânica usada pelos poetas peca pela falsidade, os vícios que o escravizam não condizem com a realidade de ambos; Álvares de Azevedo morreu tão virgem quanto nasceu, e nisso Cruz e Souza vivia ao lado da Loucura de Gavita, sua esposa e na miséria, vendo distante dessa realidade tão almejada em seus poemas, a necessidade da eterna busca conflituosa e espirituosa.



Por: Valesca Rennó